Como o próprio nome indica um local calmo e hospitaleiro a convidar a uma estada prolongada. Assim o descreveram os Árabes quando no séc. VIII lhe atribuíram a designação de Alfandagh. Mais tarde, as lutas pela reconquista Cristã da península acrescentaram-lhe a palavra Fé. Assim nasce o atual toponímico da vila e sede de um concelho, que sempre teve na Serra de Bornes, Vale da Vilariça e Rio Sabor os seus elementos de referência. Alfandagh, Alfândega, foi sede administrativa com alguma importância no tempo da ocupação muçulmana, mas sabe-se que o território já era habitado em tempos anteriores. A prová-lo os vestígios arqueológicos que o tempo ou estudos mais aprofundados se encarregaram de manter e revelar. A testemunhar que a fé desta Alfândega há muito se começou a desenhar e que a Fé nesta Alfândega resiste às escaramuças da história, às investidas do tempo e se vai sedimentando, qual fortaleza erigida por homens e mulheres que continuam, fielmente, a escrever a história deste território.
Uma história que, em termos de nacionalidade, só se vê verdadeiramente reforçada a 8 de Maio de 1294, data em que D. Dinis lhe concede a primeira carta de foral. Em 1510 D. Manuel I concede-lhe nova Carta de Foral aumentado a área concelhia. No entanto, em Outubro de 1855, o concelho foi extinto para em Janeiro de 1898 ser restaurado como circunscrição administrativa independente. Alfândega da Fé mantém, desde essa altura, os mesmos limites geográficos, que vão da Serra de Bornes até ao rio Sabor e do planalto de Castro Vicente até ao Vale da Vilariça.
Situado no Nordeste Transmontano, na zona de Transição da Terra Fria para a Terra Quente Transmontana, com cerca de 5 mil habitantes, o concelho é, atualmente, composto por 12 freguesias distribuídas ao longo de 321,95 Km2, numa diversidade paisagística que alterna entre os 400 e os 1200 metros de altitude. A Serra de Bornes ou Serra de Monte Mel, como outrora se designava, sempre se manteve como a fiel guardiã deste território. Do alto dos seus 1200m tem-se uma perspetiva de todo o concelho. Um território que a natureza tão bem soube moldar, feito terreno fértil pelas mãos experientes dos homens e mulheres que, desde sempre, fizeram da terra o seu sustento. De facto, a agricultura ainda se assume como a principal atividade económica em Alfândega da Fé. Neste campo destaque para as produções de castanha, azeite, cereja e amêndoa. São também comercializados produtos resultantes da transformação destas matérias-primas, para além do fumeiro e queijo também típicos desta região. O turismo nomeadamente o associado aos recursos endógenos é uma área em franca expansão e desenvolvimento, fruto também da aposta no saber fazer local, nos traços identificativos do territórios e nas potencialidades que este oferece. É assim a Fé de Alfândega onde o passado espreita a cada canto e o presente se molda com a determinação e vontade de todos os que fazem deste território um lugar único para viver e visitar.
A lenda dos Cavaleiros das Esporas Douradas tem origem no tempo da reconquista Cristã da Península. Altura em que as lutas entre mouros e cristãos eram frequentes, época em que a história se confunde com as histórias transmitidas de geração em geração. Verdade ou não explica o próprio toponímico do concelho e a formação da localidade.
Conta a lenda que durante a ocupação Muçulmana existia nestas terras um mouro que espalhava o terror na região. Abdel-Alí tinha o seu Castelo no Monte carrascal, próximo da atual localidade de Chacim e dominava toda a região. Senhor destas paragens, exigia como feudo a entrega de um determinado número de Donzelas. Abdel-Alí obrigava a população a dar-lhe conta de todos os casamentos que se realizavam na região, exigia saber o nome de cada donzela que ia contrair matrimónio e se quisesse podia possuí-la. Este imposto ficou conhecido como o “Tributo das Donzelas”.
Mas o casamento de dois jovens haveria de mudar o destino da população e do mouro malvado. O anúncio da união entre Teolinda, filha de D. Rodrigo Ventura de Melo, Senhor de Castro e Casimiro, filho de D.Pedro Rodrigues de Malafaia, líder dos Cavaleiros das Esporas Douradas, faz inverter o rumo dos acontecimentos.
A cobrança do tributo por parte do Mouro revolta a população. É então que os “Cavaleiros das Esporas Douradas” organizam uma investida contra o infiel. Conta o povo que tal batalha não foi fácil, os Cristãos chegaram mesmo a estar em desvantagem. Foi então que apareceu Nossa Senhora que com um bálsamo que trazia na mão foi reanimando os mortos e curando os feridos. A luta aumentou, então, de intensidade e os invasores acabaram por ser expulsos destas terras, pondo-se assim fim ao “Tributo das Donzelas”.
No local construiu-se uma capela em homenagem a Nossa Senhora, hoje Santuário de Balsamão, o lugar de tão grande Chacina deu origem a Chacim e Alfândega, graças à bravura e valentia dos seus Cavaleiros das Esporas Douradas, e em nome da Fé cristã passou a designar-se Alfândega da Fé.